domingo, 4 de maio de 2014

Leitura recreativa


«O Segredo do Rio»

(Miguel Sousa Tavares)

                              em poesia


Vamos contar uma história

De uma bela amizade

Entre um rapaz e um peixe

Que ficou para a eternidade!

 

 O rapaz vivia numa casa

 Rodeada por um pomar

 Nunca faltava fruta fresca

 Para ele se deliciar!

 

Havia também dois carvalhos

Que a casa parecia guardar

Davam uma bela sombra

E muita beleza ao lugar!

 

Mas o seu sítio preferido

Era, sem dúvida, o ribeiro

Onde tomava longos banhos

E brincava o ano inteiro.

 

Todos adoravam o rio

E com ele tinham muito cuidado,

Pois a água limpa era um milagre

Que não podia ser estragado.

 

Na margem daquele ribeiro

Havia um pequeno espaço de areia

Onde, de dia, apanhava sol

E à noite uma brisa ligeira.

 

Numa noite de Verão

Algo inesperado aconteceu

Ouviu barulho e escondeu-se

E um grande javali apareceu.

 

Vinha com os seus filhotes

Para a sede poderem matar

Com a água fresca do ribeiro

E o rapaz ficou a observar.



Mas a maior aventura do rapaz

Estava para acontecer

Foi numa tarde de Primavera

Com tudo florido a valer!

 

O rapaz estava de bruços

Na pequena praia de areia

Distraído a brincar

Ouviu uma barulheira.

 

O estrondo vinha da água

Por isso, olhou admirado

E viu um peixe enorme

A dar saltos entusiasmado.

 


Nunca vira um peixe tão grande!

E ficou quieto na margem

Com medo e sem reação

Nem para fugir tinha coragem.

 

O peixe despreocupado

Nadava sem parar

Como se fosse o dono do lago

Logo começou a falar:

 

- Ó rapaz, vives aqui? -

Perguntou sem hesitar.

Ele apenas tremia de medo

E só conseguia gaguejar:

 

-Vi-vi-vo- respondeu por fim

- Mas que bonito lugar!

A água é muito limpa

É mesmo espectacular!

 

-És tu o dono do lago? -

Continuou o peixe falador.

O rapaz respondeu que sim

E ficou com um ar pensador…

                                                                                       

Então encheu-se de coragem

E finalmente perguntou:

-  Falas a língua das pessoas?

E o peixe começou:

 

- Eu nasci num aquário

Que era de um rapazinho

Tratava muito bem de mim

Era mesmo meu amiguinho!

 

- Falava tanto comigo

Que eu acabei por aprender

A linguagem das pessoas

Como tu podes bem ver!

 

- Mas eu cresci muito

E no aquário já não podia morar,

Então lançaram-me no rio

E eu nadei sem parar.

 

 
-Subi e desci ribeiros

À procura do melhor lugar

Para fazer a minha casa

Mas nada me consegue agradar.

 

O rapaz ficou em silêncio

A pensar no que fazer.

Que coisa mais estranha

Havia de lhe acontecer!

 

Embora gostasse muito

De sozinho brincar

Tinha pena do peixe

E decidiu que ia ajudar.

 

-Que espécie de peixe és tu? -

Perguntou-lhe com curiosidade.

- Sou uma carpa, um peixe do rio

E vivo até muita idade!

 

 

- Vamos fazer um acordo?

Podes ficar aqui a morar

Mas que falas a nossa língua

Ninguém pode imaginar!

 

Decidiram ser amigos

E juntos aprenderam a brincar

Riam e jogavam à bola

E não paravam de conversar.

 

Os dias com mais calor

Vieram com o verão

Nadavam juntos e mergulhavam

E assim passou essa estação.

 


O verão terminou

E os dias de calor continuaram

O Outono chegou

Mas as chuvas não começaram.

 

A comida escasseava

E o pai estava preocupado

Resmungava muito sozinho

E andava sempre calado!

 

De semana para semana,

Tudo ficava pior

A fruta apodrecia nas árvores

Era a tristeza em redor!

 


Por isso a mãe sugeriu-lhe

A carpa ir apanhar

Como era muito grande

Muito alimento ia dar.

 

O rapaz ficou aflito

Tinha medo do seu amigo perder

Então correu a avisá-lo:

- Vá, toca a desaparecer!

                                                                             

- Tens mesmo que ir embora!

E explicou-lhe a razão

- A comida escasseia

E vais ser tu a refeição.

 

Foi uma despedida difícil

As lágrimas corriam livremente

Aquela terrível separação

Podia ser para sempre!

 

O peixe desapareceu!

Mas que grande deceção

O pai ficou desolado

Com o coração na mão.

 

Todos andavam tristes

O rapaz nem ao rio ia

Tinha perdido o encanto

A sua verdadeira magia!

 

 
Desde esse triste dia

Duas semanas passaram

E numa bela noite de outono

As alegrias voltaram.

 

Uma agitação conhecida

Na água do rio percebeu

Olhou atentamente

E o peixe apareceu.

 

Sem demora calçou as botas

E pela janela pulou

Estava tão tão feliz

Que pela água dentro entrou.

 

- Olá amigo, voltaste!

- Sim, para viver aqui outra vez

Já resolvi o vosso problema,

Tenho comida para todos vocês.

 
                                                                           

Então o peixe contou

A aventura ao petiz

Para conseguir os alimentos

E fazer a sua família feliz!

 


- Quando saí daqui lembrei-me

Que há um tempo dormi

Num barco naufragado

E no porão alimentos vi.

 

-Eram latas de conserva

Por isso tive uma ideia

Regressar a esse barco

E retirar a carga inteira.

 

- Estendi uma rede no chão

E num saco gigantesco a transformei

Passei tudo para lá

E muito satisfeito fiquei.

 

- Como era muito grande

Sozinho não o podia puxar

Chamei então outros peixes

Mas não me conseguiram ajudar.

 

Foi então que aconteceu

Uma coisa espetacular

Apareceram duas raposas

Dispostas a cooperar.

 

Expliquei-lhes a intenção

E elas quiseram colaborar

Durante dias e noites

Foi puxar até fartar.

 

- Onde estão agora as raposas?

- Foram embora, mas vão voltar

E numa festa à roda da fogueira

Iremos juntos comemorar.

 

 

- O que vocês fizeram

Foi mesmo espetacular!

Amanhã contarei ao meu pai

Que o saco com comida conseguiste arrastar.

 

- Ele ficará muito contente,

Mas uma coisa vamos combinar

O nosso segredo mantém-se

Ninguém saberá que consegues falar.

 

- Ainda lhe vou dizer

Que és inteligente e nosso amigo,

Que nos salvaste da fome

E que viveres aqui é bem merecido.

 


O rapaz contou aos pais

E toda a manhã trabalharam

Latas de comida de todo o tipo

Para casa carregaram.

 

- O peixe é especial

Embora não consiga falar.

O rapaz sorriu encantado…

Se o pai pudesse imaginar.

 

A primeira coisa que o pai fez

Quando acabou de almoçar

Foi elaborar uma tabuleta

Com o aviso”Proibido pescar”.

 

Colocou-a ao pé do rio

E o rapaz seguiu o exemplo

Escrevendo numa outra tabuleta

Este lindo pensamento:

 

 
“ Este rio tem um segredo

                                    e esse segredo é só meu.”

 

                                                                           Trabalho elaborado por Joana Gomes  6.º C, apresentado numa sessão de leitura em conjunto com o Encarregado de Educação.

2 comentários:

  1. Carolina Ferreira N2 6A9 de maio de 2014 às 10:26

    Está incrivél, Joana!!
    Tens muito talento para escrever poesia, continua assim e terás futuro!!!!!

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  2. Nem tenho palavras para descrever este texto. Está maravilhoso. :)

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