quarta-feira, 14 de dezembro de 2011



Uma manhã em frente à janela



Era de manhã, quando me levantei e me espreguicei vagarosamente até à porta do meu quarto.

Caminhei até ao jardim como uma folha esvoaçando pelo céu, sentei-me, aconchegando-me naquela relva macia, e fui falar com o sol dizendo-lhe “olá”.

Aproximou-se de mim e retribuiu-me com uma saudação solarenga. Mais tarde, iniciámos uma pequena conversa. Sentia-me bem, gostava de interrogá-lo com algumas das minhas curiosidades.

-Então, sol, o que vais fazer durante a tua folga?

-Eu? De folga?! Isso era o que eu queria… Vou viajar por vários países, mas vou trabalhar, é claro. Aqui, acabaram os tempos quentes mas há lugares onde amanhã começará o verão. Nunca tenho uma única folga…

-A sério?! Mas à noite nunca está calor, por isso tens umas horas de férias…

-Mesmo assim, à noite viajo para outros lugares onde seja dia.

-Ah! Agora já entendi!

De repente, um grande arco-íris sorriu de orelha a orelha e juntou-se a nós muito apressadamente.

-O que é que estão aqui a fazer? – Interrogou-nos ele.

-Estávamos a falar. Mas porquê, o que aconteceu?

-Ainda nada aconteceu, mas está prestes acontecer. Vêm aí as primeiras chuvas. Fujam!

Nesse mesmo instante, o sol desapareceu, juntamente com o arco-íris; as nuvens e a chuva apareceram e foi então que percebi que tudo aquilo era um sonho.

Acordei e senti o sopro do vento a baloiçar os meus longos cabelos parecendo que estava a chamar por mim. Levantei-me levemente, como sempre, e reparei que a janela já estava aberta. Os cortinados dançavam dizendo-me “bom dia”. Espreitei pelo parapeito da janela e vi que chegara a esperada estação do ano. Não vou dizer qual é, para já, é segredo… Mas não tardam muito a perceber.

Já não se veem andorinhas a voar, parecem ter feito as malas e partido à procura de uma brisa de calor, um país, de seu nome África. Apareceram novas cores esboçadas em árvores. Era como se um pintor passasse por lá e colorisse as suas folhas bem como os jardins de todas as casas. Algumas das folhas já caídas, mas todas com os mesmos tons de cores. Entre elas, destacavam-se um laranja-tijolo, amarelo-torrado, um castanho desvanecido e um roxo pálido. Era grande a vontade de mergulhar naquele tapete fofo e multicolor.

Dei por mim a avistar ao longe umas quantas pessoas muito atarefadas com as suas colheitas. Algumas colhiam douradas espigas de milho, outras colhiam cachos de uvas reluzentes e ainda nozes e maçãs. Disse para mim: “Pensava que o verão tinha acabado, mas não. Sim, as nuvens estão a cobrir o sol e o vento sopra na minha cara mas o calor continua a fazer sentir-se.”

Até que saltei por ter ouvido aquele zumbido horrível do telefone que me atormentava. Naquele pequeno ecrã, estava escrito “avós” e atendi de imediato. Era um convite para os ajudar a fazer a desfolhada com toda a vizinhança da aldeia!

Mais tarde, vi o meu pai juntamente com o vizinho do lado. “Lá vão eles procurar, entre vales e florestas, lebres e perdizes”, pensei. Talvez apanhem umas castanhas para brevemente fazermos o Magusto. Adoro essa altura!... Enfarrusco-me e fico como uma nuvem negra, é uma festa de diversão!

Esbocei um sorriso e fechei os olhos. Pensei no que tinha feito durante o verão. O meu álbum de fotografias mental dava-me a recordar momentos inesquecíveis e imagens um pouco apagadas, como se alguém estivesse a usar uma borracha, desfocando-as e desvanecendo-as.

Os meus olhos reluzentes continuaram a focar aquela estação do ano maravilhosa! Até que ouvi a buzina do autocarro a apitar e apercebi-me que estava na hora de ir para a escola. Caminhei com os meus pezinhos de algodão e fui preparar-me para ir embora. Abri a porta e, sorrateiramente, ouvi alguém dizer “Chegou o outono!”





Ana Sofia Martins, nº 4, 6ºD       




















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