domingo, 30 de novembro de 2014

A caixinha...

A caixinha dos sonhos

Júlia tem 6 anos e, como qualquer menina da sua idade, gosta muito de sonhar. Sempre que pode gastar o tempo à vontade, corre para o sótão, um local cheio de “tralhas” e objetos esquecidos. É lá que ela esconde um segredo - uma misteriosa caixinha.
A caixinha foi-lhe oferecida pelo tio António, um embrulho dourado que ele lhe trouxera da viagem que fez à Índia.
- É uma caixinha mágica - disse ele quando Júlia rasgou o papel. - Contém sonhos que esperam por ti, enquanto acreditares neles.
A caixa tinha a forma de um diamante, decorada com pedras preciosas cintilantes a toda a volta e forrada de veludo vermelho por dentro. Quando a abria, sentia o cheiro a um perfume de rosas delicado e leve que se espalhava misteriosamente pelo ar, como um pó mágico, que a levava para lugares bem longínquos - a passagem secreta para o reino da fantasia…
Sentia sempre o mesmo “friozinho na barriga” quando abria a tampa dessa caixinha misteriosa, pois nunca sabia o que o Cavalo de Nuvem com asas prateadas, o anfitrião do reino dos sonhos, tinha reservado para ela.
“Onde me levará ele desta vez?” – pensava Júlia empolgada, sentada no chão do sótão, cada vez que segurava a caixinha entre as mãos, pronta para abrir a tampa.
Antes de partirem para o reino da fantasia, o Cavalo de Nuvem com asas de prata levava Júlia à costureira do reino, uma aranha de Paris, que sabia fazer os vestidos mais lindos e arrepiantes do mundo: vestidos feitos de pérolas e anémonas com véu de espuma do mar, vestidos feitos com gomos de seda colorida, de cristais de gelo, de rosa e plumas de cisne…
Então, Júlia tapava os olhos e quando os abria, estava vestida com um desses vestidos encantados. Hoje, o Cavalo de Nuvem com asas de prata escolheu um vestido feito com mil pétalas de rosas brancas muito delicadas cobertas com gotas de orvalho.
Júlia nem queria acreditar! Finalmente iria visitar o Reino das Fadas - o seu preferido!
E estavam prontos para partir. Júlia trepava para as costas do Cavalo de Nuvem com asas de prata e ele dizia:
- Segura-te bem, vamos para o Reino da Fantasia!
No reino das fadas, um unicórnio verde esperava-os junto ao Lago da Juventude. Júlia não resistiu e mirou-se no espelho da água do lago e desejou ficar assim vestida para sempre…
- Depressa! – disse o unicórnio. – Não há tempo a perder! Temos de acordar Flora, a rainha das fadas que caiu num sono profundo por ter bebido o sumo de amora preta envenenado, feito por Silvana, a fada invejosa.
            Silvana invejava a alegria do reino de Flora. Por isso, resolveu adormecê-la para que todo o reino ficasse triste.
E assim aconteceu: as flores murcharam, as fontes secaram, os passarinhos deixaram de cantar e todas as fadas deixaram de cumprir as suas tarefas. Todo o reino se encontrava abandonado e mal tratado.
- O que é que temos que fazer para acordar Flora? – perguntou Júlia, ansiosa.
- Só acordará se cheirar o perfume da rosa azul, que está no Bosque dos Besouros Amarelos – respondeu o unicórnio. Mas Silvana ordenou ao Besouro Amarelo chefe que a guardasse muito bem. Ele tem muito mau feitio e não permite que ninguém se aproxime dela. E já não temos muito tempo, pois o efeito do perfume termina ao pôr-do-sol…
- Vamos já para lá! – interrompeu Júlia. - Temos que arranjar uma maneira de trazermos a rosa azul.
E puseram-se a caminho.
Quando chegaram ao Bosque dos Besouros Amarelos dirigiram-se ao Palácio do Girassol, onde tudo era feito com pétalas de girassol: as janelas, as portas, as paredes, as mesas, as cadeiras… tudo, mesmo tudo!... Ao fundo do corredor, dentro de um frasco de vidro muito reluzente, estava a rosa azul. Ao seu lado, o Besouro Amarelo chefe ressonava com as mãos em cima da barriga.
Aproximaram-se os três pé ante pé, mais leves que o vento, e Júlia pegou com muito jeitinho no frasco de vidro, mas tropeçou no tapete de girassóis, sem querer, deixando cair o frasco ao chão. O frasco desfez-se em mil pedaços, acordando o Besouro Amarelo chefe:
- Quem é que se atreve a perturbar a minha sesta?! – Perguntou ele muito irritado.
O unicórnio verde apressou-se a pegar na rosa azul com a boca, Júlia saltou para o dorso do Cavalo de Nuvem com asas prateadas e saíram pela janela mais rápidos que um raio, pois o sol começava a pôr-se.
No palácio da rainha das fadas, Flora dormia descansada e serena. Quando Júlia lhe encostou a rosa azul ao nariz, o seu perfume fê- la abrir os olhos.
Nesse mesmo instante, o sol voltou a aparecer no céu e a alegria voltou também ao reino das fadas…
Os dias iam passando e Júlia e o Cavalo de Nuvem com asas de prata, viajaram juntos, vezes sem conta, por todos os reinos da fantasia: pelo reino das sereias, entre corais e anémonas e cavalos-marinhos, enfrentando tubarões e polvos gigantes; pelo reino dos duendes, perdidos em labirintos verdes resolvendo enigmas de pernas para o ar; pelo reino dos gnomos felizes que cultivavam as flores da amizade; pelo reino dos gigantes, onde só morava um gigante muito meigo e pelo reino das bruxas, onde existiam aranhas gigantes, morcegos com quatro asas e corvos sem penas.
Fizeram viagens inesquecíveis, até que um dia, Júlia deixou de ir ao sótão. Passaram dias e dias, Júlia deixou de abrir a caixinha dos sonhos e o Cavalo de Nuvem com asas prateadas adormeceu num sono profundo…
Passaram muitos anos. Júlia cresceu, casou e foi morar para outra cidade.
Numa tarde de primavera, Júlia levou Clarinha, a sua filha de 5 anos, a visitar a avó. Depois do lanche, Clarinha tinha permissão para ir brincar. Nessa tarde, subiu as escadas e decidiu explorar aquele mundo misterioso de “tralhas” antigas que a avó guardava no sótão.
Instantes depois, Clarinha desceu as escadas aos pulos, ao encontro da mãe:
- Mamã, mamã! Olha o que eu encontrei!... - disse ela, mostrando a Júlia uma caixinha em forma de diamante, decorada com pedras preciosas…
Ao pegar na caixa, Júlia sentiu aquele “friozinho na barriga” que a transportou vezes sem conta para lugares longínquos…
- Posso ficar com ela? Posso ficar com ela, mamã? – insistia Clarinha, encantada com o achado.
- É uma caixa mágica – disse-lhe Júlia. – Contém sonhos que esperam por ti, enquanto acreditares neles…
Os olhos de Clarinha iluminaram-se e, ela, curiosa, abriu a caixinha, sentindo um “friozinho na barriga”…
E o Cavalo de Nuvem com asas prateadas acordou do seu sono profundo.




Carolina Paredes, 7ºC

2 comentários:

  1. Margarida Almeida, 5ºB1 de dezembro de 2014 às 10:56

    Parabéns, gostei muito do teu texto! A história que escreveste é muito interessante e original. Futuramente, hás-de ser uma grande escritora!

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    1. Margarida, concordo plenamente contigo.

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